Um tour por Portugal, mergulhando na gastronomia e cultura das cidades mais icônicas
- P2 Turismo
- 7 de mar.
- 4 min de leitura

Portugal, uma viagem de sabores e histórias: Um roteiro gastronômico e cultural
Há dois tipos de viajantes no mundo: os que se preocupam em riscar atrações turísticas de uma lista e os que sabem que a alma de um lugar está em sua comida, nas suas vielas mal iluminadas e no riso dos locais com um copo na mão. Se você faz parte do segundo grupo, prepare-se: Portugal não é um país para dietas, nem para turistas apressados. É um convite para sentar, beber um copo de vinho e deixar a vida passar devagar.
Lisboa: Onde tudo começa e termina com um pastel de nataLisboa é um choque de sensações. O cheiro do bacalhau assado se mistura ao escapamento dos elétricos subindo as colinas, e o som do fado escorre pelas ruas de Alfama como vinho tinto manchando uma toalha branca. Seu dia começa no Mercado da Ribeira, onde você encara o primeiro dilema: pastéis de nata da Manteigaria ou da tradicional Pastéis de Belém? A verdade é que o certo é comer os dois.
Depois de um café forte que poderia reanimar um morto, caminhe sem rumo por ruas íngremes. O almoço pede um prato robusto, então siga até a Ramiro e entregue-se ao ritual: camarões gigantes nadando em alho e manteiga, percebes que exigem mais habilidade que um cofre suíço para serem abertos, e o icônico prego no pão para fechar a refeição. Acompanhado de uma imperial, claro.
À noite, esqueça a dieta e peça um arroz de marisco no Cervejaria Trindade ou um bacalhau à Brás no Solar dos Presuntos. Se sobrar espaço – o que é improvável – encerre a noite com ginjinha na A Ginjinha, de pé, como um verdadeiro lisboeta.
Porto: A cidade do vinho e do coração forte O Porto não tem paciência para frescuras. Aqui, a comida é feita para quem trabalha duro e come sem pressa. Comece o dia com um cimbalino (é como chamam o espresso por aqui) e um pastel de Chaves. Depois, vá direto à Ribeira, onde os barcos carregam vinho do Porto como se fosse ouro líquido.
O almoço só pode ser uma coisa: francesinha. Se você nunca ouviu falar, imagine um sanduíche que parece ter sido criado por um glutão apaixonado por queijo derretido e molho espesso de cerveja. No Café Santiago ou no Cervejaria Brasão, ela chega fumegante, com batatas fritas para rebater. Se sobreviver, faça a digestão atravessando a Ponte D. Luís e visitando uma cave de vinho em Vila Nova de Gaia.
No jantar, um polvo à lagareiro ou uma posta mirandesa. A vida é curta para não aproveitar o melhor que o Porto tem a oferecer.
Coimbra: Tradição, capas negras e chanfana, Coimbra é poesia em forma de cidade. Ruas estreitas, estudantes de capa preta andando apressados e um ar de nostalgia que só cidades universitárias de verdade têm. Antes de se perder na Universidade, onde a Biblioteca Joanina poderia servir de cenário para Harry Potter, coma algo típico: um leitão à Bairrada no Pedro dos Leitões, acompanhado de um espumante seco.
O jantar precisa ser regado a história. Experimente a chanfana, um prato de carne de cabra cozida lentamente em vinho tinto e especiarias. Dizem que nasceu nos conventos, quando as freiras precisavam de criatividade para alimentar os trabalhadores.
Évora: O interior onde se come sem culpa No Alentejo, tudo é devagar. O calor obriga a paciência, e a comida segue o mesmo ritmo. Em Évora, você entra em uma tasca e pede uma açorda alentejana, um ensopado rústico de pão, alho, coentro e ovo escalfado. Simples, mas viciante.
Se a fome for grande, vá de migas com carne de porco e um vinho robusto da região. Aqui, os pratos têm alma e história. E o melhor de tudo? Ninguém tem pressa de ir embora.
Algarve: Muito além das praias O Algarve é mais conhecido pelas praias, mas seria um erro subestimá-lo gastronomicamente. Lagos, Tavira e Olhão guardam segredos culinários que fazem qualquer um reconsiderar sua ideia de paraíso. Aqui, a cataplana de mariscos reina absoluta. É um ensopado cozido lentamente em um recipiente de cobre que mantém todos os sabores do mar concentrados.
Na hora da sobremesa, experimente o Dom Rodrigo, uma bomba de açúcar e amêndoas que parece saída de um conto árabe. Se o jantar for em uma vila piscatória, aproveite para comer sardinhas frescas grelhadas, simples, como devem ser.
Madeira: O final perfeito. Se Portugal fosse uma refeição, a Madeira seria a sobremesa. Esta ilha vulcânica mistura tradição portuguesa com influências exóticas. O primeiro choque é o bolo do caco, um pão rústico servido com manteiga de alho que te faz questionar todas as suas escolhas alimentares até aquele momento.
Peça um peixe-espada com banana e molho de maracujá e tente entender como algo tão estranho pode ser tão bom. Para fechar, um copo de vinho da Madeira. Forte, doce e complexo, como a própria ilha.
Comer é conhecer. Viajar por Portugal é mais do que ver monumentos. É sentar-se à mesa, conversar com quem está ao lado, provar coisas inesperadas e brindar à vida com um vinho que você nunca ouviu falar, mas que se tornará seu favorito. Então, esqueça a contagem de calorias e vá com fome. Portugal não decepciona.
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